“A noite vinha fria e a chuva não parava”. Parafraseando Deolinda, em "Clandestino", não há melhor forma de começar a contar o concerto, já que foi assim que a noite começou, em Mafra.

Em pleno Julho e num cenário idílico, como é o Jardim do Cerco, junto ao Convento, a chuva caiu a bom cair. Não estava frio e, talvez por isso, foram algumas centenas as pessoas que não arredaram pé e ali ficaram para ouvir o grupo lisboeta. Quem não levou guarda-chuva, conseguiu não sair completamente encharcado graças ao toldo natural das muitas árvores.

Como já vem sendo habitual, a banda tipicamente portuguesa na sonoridade e na intervenção brindou o público com mais um brilhante concerto. À boa música, juntava-se toda “uma casa de espectáculos” em verde, bruma e água, o que conferiu um tom intimista e misterioso, até acolhedor.

O grupo apresentou-se no Cool Jazz com o seu novo álbum, "Dois selos e um carimbo", com "Problemática colocação do mastro" a recolher muitos aplausos. Como a própria Ana Bacalhau disse, é uma sátira à megalomania dos portugueses de ter sempre o maior. Uma canção crítica com sons de marchas populares. Dentro do mesmo registo do disco anterior, destaque também para" Canção de tal guitarra", uma incursão pelo fado desgarrada, vadio, com o toque do grupo, e também "Quando janto em restaurantes".

E pelo meio, entre selos e carimbos, os Deolinda fizeram reviver o Verão passado, com temas de "Canção ao lado". "Fado tonhinho", "Mal por mal", "Fon fon fon", "Clandestino" e "Movimento perpétuo associativo" provam que o projecto tem raízes sólidas, um largo número de seguidores, já que foi nestes momentos que muitas vozes ecoaram pelo jardim de Mafra.

Texto e foto @Inês Henriques