Pouco depois de subir ao palco, Daniel Higgs apresenta um dos seus objetivos, no que à música diz respeito: “To make a song a bird might like”. A proposta parece algo irónica, no entanto, existe algo de hipnotizante na música de Higgs. Enquanto a mão esquerda voa sobre o braço do banjo, subindo e descendo, o dedilhar rápido surpreende a audiência.

O próprio aspecto de Higgs surpreende quem não o conhece. Parte ermita, parte marinheiro, Higgs é uma espécie de Pai Natal tatuado. A longa barba branca esconde desenhos que partem do pescoço e seguem ocultos pela roupa até aos braços e mãos. Não tem gorro vermelho, mas preto. E, em vez de um saco,é com o banjo que premeia o público.

Nãofoi a primeira vez que Higgs tocou em Portugal - já haviaatuado na galeria Zé dos Bois -, porém, trouxe nova companhia neste regresso -um novo banjo, e o recente disco “Beyond and between”. Contudo, além da música que dá o título ao álbum, Higgs tocou como que de improviso, saltando entre várias composições e divagando entre elas.

Até a sua atitude em palcofoi casual, franca e despretensiosa, prestando, por vezes, mais atenção às pessoas que passavam em frente da janela enquanto passeavam pelo Bairro Alto.

Higgs aproveitou ainda para deixar à audiência vários conselhos: nunca sorrir a chimpanzés e cantar todos os dias como remédio preventivo foram dois deles. Deve conhecer o velho ditado "quem canta, seus males espanta"...

Texto: Henrique Mourão

Fotografias: Joanica Cardoso