Deolinda, Clã, Ana Moura, António Zambujo, Luísa Sobral, Anaquim, Cuca Roseta e Maria Bradshaw deram a cara - e a voz - pela causa.

A participante da última edição portuguesados Ídolos abriu a noitecom a interpretaçãodo tema de Sara Tavares, Bom Feeling, acompanhada pelos Anaquim.

Estes mantiveram-se em palco, mas, antes depassarem àmúsica propriamente dita,uma piada fácil, em jeito de cumprimento: "Hoje não é o Campo Pequeno, é o Campo Grande". "Gostamos de ajudar porque há por aí quem diga que estamos interessados nas vidas dos outros", atira ainda José Rébola, vocalista, numa clara alusão ao álbum de estreia da banda, de 2010.

A noite era, claramente, de festa, não só por estar a ser celebrada a solidariedade, mas também porque erao aniversário de João Santiago, baterista do coletivo, que recebeu do público uns parabéns cantados em uníssono e bem afinados.

Tempo, então, para As vidas dos outros, acompanhado a rigor pela plateia, pouco antes de uma salva de palmas dedicada a Vasco Sacramento, um dos responsáveis pela noite. Ainda houve tempo para Desnecessariamente complicado, faixa homónima do segundo álbum do grupo, aplaudida pelo público, envolvido.

Ao longo do espetáculo, os presentes foram contemplados com diversos duetos. Manuela Azevedo, dos Clã, protagonizou o primeiro, convidada pelos Anaquim. "Quem conhecer o tema, cante connosco, por favor", pede, antes de, de pandeireta na mão,dar início a Tom Sawyer, que todos transportou ao distante Mississipi.

Livro de reclamações marcou o fim da atuação dos Anaquim, que se despediram com um "Muito obrigado e até à próxima".

Entram, então, três músicos em palco, muito bem acompanhados pelos seus instrumentos, que logo rasgam o silêncio do Campo Pequeno. Entre eles, Cuca Roseta, que rapidamente passa à interpretação de Estranha Forma de Vida (música criada por Alfredo Marceneiro e letra composta por Amália Rodrigues), deixando a plateia extasiada com aquela que seria a primeira de muitas músicas com sabor a fado da noite. De sorriso nos lábios, não esconde a felicidade perante um Campo Pequeno "tão unido por uma causa tão bonita".

Nos Teus Braços, tema que integra o álbum de estreia de Cuca, segue-se no alinhamento da atuação, soberbamente interpretada, dotada das mais serenas palavras de amor. Segue-se Barco Negro, de Amália Rodrigues, que o público, incansável,faz questão de acompanhar com aplausos em catadupa. À voz de Cuca Roseta junta-se, para o quarto e último tema da fadista, Maria Bradshaw.

E chega a vez de Luísa Sobral subir ao palco. Not There Yet surge acompanhada pelo som de umaharpa e contagia, de imediato, a sala de espetáculos. "Muito obrigada. Boa noite a todos, estou muito contente por estar aqui, por fazer parte desta iniciativa", revela a cantora, que prossegue com a interpretação de Japanese Rose - tema sobre uma rapariga chamada Rose, que perdeu ambos os pais no tsunami do Japão, composto faz hoje um ano.

E chega a hora de mais um dueto, partilhado com António Zambujo, que com Luísa Sobral canta o amor de D. Pedro e Inês de Castro em Inês - tema composto por Luísa quando foi convidada para um espetáculo em Alcobaça. Com Xico, uma das músicas maiscelebradasda noite, Luísa Sobral encerra a sua prestação, cedendo o lugar ao sol a António Zambujo.

Muito bem acompanhado pela sua viola clássica, Zambujo inicia a sua performance com Zorro, do último álbum. A alusão ao Benfica presente na canção gera gritos de entusiasmo por parte da plateia, que recebe momentos depois, em clima de festa, Foi Deus, que tão bem mistura "saudade, ternura e talvez amor". Flagrante, de "Quinto", encerrou a sua prestação a solo, à qual se seguiu uma parceria com os Deolinda, que emprestaram à doçura de Zambujo um toque de contemporaneidade.

"O que nos move é tocar, e tocar na vida das pessoas", confessa Ana Bacalhau, mal entra em cena, já soavam os primeiros acordes de Um contra o outro. Após arevisitação do single de avanço do segundo álbum do grupo, convida Ângelo Freire - "o Fado na forma de guitarra portuguesa" - e Ana Moura, que se unem na interpretaçãode Passou por mim e sorriu. "Um momento cheio de sensibilidade", nas palavras da vocalista dos Deolinda, que antecedeu "um momento sem sensibilidade nenhuma" - a apresentação de Fado Toninho. Fon Fon Fon, também de "Canção ao Lado", fechou a sempre alegre atuação do coletivo.

É ao som de três guitarras que Ana Moura sobe ao palco eapresenta Caso Arrumado, de "Leva-me Aos Fados". Após um agradecimento aos Deolinda, pelo convite para a parceria, ela própria repesca Cuca Roseta para um dueto. A escolha recai, desta feita, em Rosa Cor de Rosa, escrita por Jorge Fernando, acompanhada com fulgor por parte do público.

Búzios e Fado Loucura foram os temas que se seguiram. O silêncio não foi cumprido à risca, mas o fado foi muito, muito bem cantado.

Amigo do Peito,de "Disco Voador",inaugurou a performance muito aguardada dos Clã. H2omem rompeu de seguida, com Manuela Azevedo imparável, entre sintetizadores, órgãos e solos de guitarra. Embeiçados foi dedicada à Associação Novo Futuro e teve direito, em jeito de introdução, à história do Patinho Feio.

"A propósito de um Novo Futuro...O futuro da música portuguesa está todo aqui", grita Manuela Azevedo, enquanto todos os artistas reentravam em palco uma última vez. Asas Delta foi o tema escolhido para a orgia musical - e que melhor tema para celebrar um espetáculo como este -um verdadeiro elogio à música portuguesa e à solidariedade?

Texto: Joana Costa e Sara Costa
Fotografias: Carolina Prata