
Pela sétima vez seguida, no período entre o 25 de Abril e o 1 de Maio, a Casa da Música apresenta o ciclo “Música & Revolução”, em que, passando por vários temas, vem programado obras que foram “revoluções na música”, ou porque “são obras que do ponto de vista da história da música marcaram uma grande diferença e fizeram ruturas ou porque são obras associadas a revoluções e convulsões sociais”, como explica António Jorge Pacheco, o diretor artístico.
Em ano de Itália, a escolha vai para compositores que marcaram ruturas estéticas como são os casos de Claudio Monteverdi e Giovanni Gabrielli, do século XVI, e dos contemporâneos Luigi Nono e Luciano Berio.
Os programas a ser apresentados repartem-se aliás neste cruzamento entre os compositores mais clássicos e mais recentes, podendo o espetador assistir a uma primeira parte com o Coro da Casa da Música e uma segunda parte com a Orquestra Sinfónica do Porto.
São vários os compositores apresentados mas António Jorge Pacheco destaca “Claudio Monteverdi como uma figura fundamental da passagem entre a música renascentista e o barroco”, já que, sendo um mestre nas composições típicas do renascimento, foi escrevendo algumas obras-primas do novo estilo. De Monteverdi será possível ouvir, por exemplo “Sanctus e Benedictus” da Missa in Illo Tempore, no dia 27 de abril.
O outro nome deste período, num ano em que a Casa da Música tem trabalhado a questão da “espacialização da música”, uma característica muito italiana, é o de Giovanni Gabrielli que “tirando partido das particularidades arquitetónicas da catedral de São Marcos começou a espalhar os coros pelas várias galerias, percebendo que isso criava um efeito ‘avant la lettre’ estereofónico.”, explica António Jorge Pacheco.
“Conzon noni toni”, pela Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música no dia 26 de abril será a obra deste compositor a ser apresentada.
“A relação da música e do espaço foi mais tarde, no século XX, sistematizada sobretudo por dois grandes compositores, com militância política conhecida, de esquerda como foram Luciano Berio e Luigi Nono”, faz notar o diretor artístico da Casa da Música.
Luigi Nono acreditava mesmo que uma das funções principais do artista ou do compositor na sociedade era a de intervir clara e inequivocamente, servindo-se dos meios específicos da sua arte”.
No concerto que estreia o ciclo para no dia 25 será possível ouvir duas obras para fita magnética operadas pelos Digitopia Collective. A primeira é “Contrappunto dialettico alla mente”, de 1968 um violento manifesto contra a política segregacionista que ainda vigorava nos Estados Unidos e na sequência dos agitados acontecimentos da Bienal de Veneza de 1968, e “Música - Manifesto nº 1”, composta na sequência da Bienal de Veneza de 1968, marcada por protestos dos estudantes.
De Luciano Berio destaca-se “Sinfonia”, escrita para celebrar os 125 anos da Filarmónica de Nova Iorque que no seu famoso terceiro tem andamento tem uma colagem de diversas citações musicais obedece à estrutura de um “Scherzo “de Mahle. Será interpretada no dia 26 pela Sinfónica e pelo dinamarquês Theatre of Voices.
Segundo António Jorge Pacheco, “Música & Revolução” é um dos “momentos mais excitantes da programação da Casa da Música” o que faz com que seja muito procurado por espetadores estrangeiros para ouvir composições “raramente tocadas” e, no caso das obras que jogam com o espaço, “muito difíceis de se perceber num CD”.
@Lusa
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