“O concerto é ponto de partida das celebrações dos meus quinze anos de carreira e, para o alinhamento, escolhi temas de recolha da música tradicional portuguesa, indo ao encontro da temática da exposição da Cristina Rodrigues, que é a etnografia, nomeadamente os adufes e o imaginário das mouras encantadas”, disse à Lusa Ana Laíns.

A exposição foi constituída por seis instalações de arte contemporânea concebidas por Cristina Rodrigues, que se cruzam com histórias recolhidas pelo etnólogo José Leite Vasconcelos, fundador deste museu, instalado, atualmente, na ala poente do Mosteiro dos Jerónimos, em Belém.

“Todas as peças [da exposição] foram construídas a partir de objetos obsoletos recolhidos no estaleiro do município de Idanha-a-Nova, e que fazem parte de uma memória coletiva desta população. Estas peças envolvem diversos materiais e detalhes, onde tudo tem um significado muito próprio e nada está ali por acaso”, explicou à Lusa fonte do atelier da artista plástica.

Da mostra fizeram parte “a exuberância da cor e texturas das rendas, fornecidas pela Fábrica de Rendas Portuense, fitas de cetim e de seda que recobrem as instalações numa ‘vanitas’ de luz e cor”, disse a mesma fonte.

O concerto, marcado para as 21:30 de sexta-feira no salão nobre do museu, contará com as participações especiais do grupo As Adufeiras de Idanha-a-Nova e do cantor Filipe Faria, com quem Ana Laíns partilhará a interpretação do tema popular “Senhora do Almortão”.

A cantora, já com três álbuns editados, e um quarto previsto para 2015 com o selo da discográfica holandesa Coast to Coast, será acompanhada por Paulo Loureiro (piano, baixo e clarinete), Carlos Lopes (acordeão), João Coelho (percussões) e Miguel Vera (viola).

Do alinhamento, “essencialmente canções tradicionais, como a ‘Toada Beirã’, mais conhecida por ‘Quando eu era pequenina’, farão também parte canções do repertório de José Afonso, que foi um grande cultor e divulgador das pesquisas musicais tradicionais”, disse a cantora.

Referindo-se aos 15 anos de carreira, Ana Laíns afirmou que “tem sido uma viagem interessante e tem valido a pena”. “Valorizo as pequenas conquistas que faço, enquanto não posso concretizar maiores objetivos e os meus sonhos”, rematou.

Ana Laíns começou a cantar em 2000 e, no primeiro álbum, “Sentidos”, gravou composições para poemas de Florbela Espanca, Lídia Oliveira, António Ramos Rosa, entre outros.

O álbum foi "cartão-de-visita" para uma digressão internacional que passou por Espanha, Bélgica, Holanda, Rússia e Grécia. A imprensa grega referiu-se à intérprete como “diva de um fado diferente”.

A revista Songlines salientou o "exercício" da cantora no domínio da "canção contemporânea" e descreveu o álbum como "absolutamente contemporâneo, sem dúvida um grande e promissor começo". Para esta revista britânica, "Sentidos" é um sinal da "pujança da cena musical portuguesa".

Em 2009, Ana Laíns gravou com o cantor britânico Boy George “Amazing grace”, um tema “pop dançante”, como na ocasião explicou a cantora à Lusa. Boy George, fundador da banda Culture Club, referiu-se à voz de Ana Laíns como “sublime”.

Em fevereiro de 2010, Laíns publicou o álbum “Quatro Caminhos”, em que gravou composições de Amélia Muge, José Manuel David, Filipe Raposo e Diogo Clemente, que foi também produtor e diretor musical, tendo escolhido poemas de Natália Correia, Rúben Darío e Carlos Drummond de Andrade, e escrito a letra de “Não sou nascida do fado”. A imprensa holandesa nomeou “Quatro Caminhos” um dos dez melhores álbuns de “world music” de 2011.

No terceiro álbum, "Vida", a cantora estreou-se como letrista com o tema "Não sou nascida do Fado". O CD é produzido por Diogo Clemente, que assina ainda os arranjos musicais.

As músicas de "Vida" são maioritariamente originais e têm as assinaturas de Diogo Clemente, Amélia Muge, Miguel Rebelo, Filipe Raposo, José Manuel David e Samuel Lopes, entre outros.

Cristina Rodrigues que trabalha em Manchester, Reino Unido, está a preparar uma digressão internacional de exposições, sendo Berlim, no próximo mês de março, a cidade seguinte no seu percurso, disse à Lusa fonte do seu atelier.

@Lusa