Palco Principal – Como surgiram os AbztraQt Sir Q?

Peter Shuy – Pusemos um anúncio no jornal. As pessoas foram surgindo. Fizemos várias audições e chegámos às pessoas que estão aqui hoje.

PP – Por que escolheram este nome?

Mundina MoruniQ – Foi um pouco como uma brincadeira. É um jogo de palavras, que é aquilo que eu faço também na construção das músicas. É algo abstracto. É um bocado para dar ao público a liberdade de pensar o que quiser. O som das palavras pode ter vários significados, como acontece com a palavra “Circus” [Sir Q].

PS – E gostamos da sonoridade do nome.

EC – Não consegues perceber que tipo de música fazemos pelo nome, o que, penso eu, dá alguma curiosidade. No entanto, a grafia e o nome estranhos também podem funcionar contra nós. As pessoas podem não saber escrever o nome da banda.

MM – Primeiro sente-se uma curiosidade em relação à nossa banda. Depois cabe a cada um gostar ou não. Os gostos já não se discutem.

PP – As personagens que vocês criaram são, também, para dar essa liberdade de imaginação às pessoas?

MM – E a nós próprios.

PP – Se calhar, desta forma, vocês acabam por conseguir separar melhor o trabalho da vossa vida pessoal...

EC – É mesmo por isso. Quando tocamos, transportamo-nos para uma realidade diferente da do dia-a-dia. Podemos fazer uma música um bocado diferente sem estarmos agarrados a ela.

PP - Onde vão buscar inspiração para a vossa música?

EC – Nas coisas mais variadas.

PS – Cada um traz as suas próprias fontes.

EC – Às vezes, há ideias concretas sobre as quais conversamos; outras vezes é um processo um bocado espontâneo e criativo. Nunca é uma coisa muito cerebral.

PP – Há alguma banda ou algum músico que vos influencie na vossa sonoridade?

EC – Acho que tudo o que ouvimos nos influencia.

PS – Não há só um. São vários.

PS – Nós não nos formámos com a intenção de fazer uma banda que soe a isto ou a aquilo.

EC – Qualquer pessoa que nos ouça, vai ouvir coisas diferentes.

PS – Mas preferências, cada um tem as suas. Nós somos todos muito diferentes, somos pessoas que ouvimos vários géneros.

EC – Na fase inicial, houve um bocado a questão de evitar coisas que se possam assemelhar a bandas específicas. Agora, acho que já não temos tanto esse problema, porque já temos o nosso próprio som.

PP – Já actuaram em vários sítios como, por exemplo, no Reino Unido. Onde é que que a vossa música foi mais bem recebida?

PS – É difícil falarmos em lugares ou em cidades.

PP – Não se lembram de um concerto que vos tenha marcado mais?

PS – Claro que podemos falar dos concertos que tivemos em Inglaterra, mas, se calhar, foram tão especiais apenas por estarmos em Inglaterra. Fomos bem recebidos aí, mas também fomos bem recebidos em Bragança, por exemplo.

EC – Acho que, quando é no estrangeiro, tem um sabor especial, porque ninguém nos conhece. Aqui pode estar sempre um amigo nosso. Ou alguém que, de alguma forma, já tenha conhecimento da nossa música. No último concerto que fizemos em Inglaterra aterrámos num sítio onde ninguém nos conhecia e onde tínhamos de tocar com outras bandas, mais mainstream. Nem sequer estávamos à espera que o público gostasse de nós. Quando tocámos, tivemos uma recepção estrondosa e ficámos bastante satisfeitos.

PP – Acham que a vossa música seria mais bem recebida fora de Portugal?

EC – Isso é uma conversa que nós ouvimos muitas vezes. Há pessoas que nos dizem muitas vezes: “lá fora é que vocês…”. No fundo, não sei. Lá fora há mais bandas underground e alternativas. Se eles são mais evoluídos ou se são mais abertos, isso já não sei. Nós encontramos imensas pessoas em Portugal extremamente receptivas e até com sede de conhecer coisas novas.

PP – Falando, agora, do vosso novo álbum, "Extimolotion": o que tem de diferente do "Qorn Pop Garden"?

PS – O "Qorn Pop Garden" foi o nosso primeiro álbum. É aquela urgência de…

EC – ...definir o que é que nós somos. Já o segundo álbum é uma coisa muito mais tranquila, onde nós já desbravámos terreno e explorámos novos caminhos.

PS – O nosso objectivo é haver sempre algo diferente de música para música. Portanto, o segundo álbum é uma continuação do nosso objectivo, que é fazer algo de novo, misturar e mostrar sonoridades novas.

EC – Eu acho que, no segundo álbum, em termos de composição, há uma maior simplicidade. O primeiro álbum tem uma concentração muito grande de ideias. Cada tema aborda vários pensamentos. Neste, se calhar, concentramo-nos em menos ideias, mas explorámo-las melhor.

MM – Já não estamos com aquela vontade de dar, de criar logo.

EC – No primeiro disco nós partimos do zero, não tínhamos nada. O segundo disco foi feito entre concertos e, portanto, foi um processo mais lento. Antes de editarmos o primeiro disco, só pensávamos: "temos de ter músicas para tocar ao vivo". A produção deste álbum não foi tão stressada.

PP – Qual o significado do nome "Extimolotion"?

EC – É um nome dum tema do álbum. Uma vez mais são jogos de palavras, de fonética. O seu significado depende um bocado das leituras que cada pessoa fizer. Pessoalmente, não gosto muito de explicar o que é que as coisas significam. Quem escreve as letras é a Mundina. Portanto, eu vou ter uma leitura diferente da que ela teve quando a escreveu. Acho piada ouvir o que as pessoas entenderam ou perceberam da música.

PP – São, portanto, temas muito subjectivos?

MM – Sim. Eu, normalmente, penso num tema geral como a liberdade ou o amor, qualquer filosofia muito geral. E depois, a partir daí, é um bocado brincar com aquilo que eu sinto nesse tema e com os jogos de palavras que gosto muito de fazer.

PS – “Extimolotion” soa-me a algo muito estimulante. Mas cada pessoa terá a sua leitura.

PP - Quais as músicas que mais se destacam neste álbum?

EC – Para nós, nenhuma delas é melhor que as outras.

PP – Mas qual é que acham que o público vai gostar mais?

EC – A primeira que nós lançamos com o vídeo, a Que Bien Ganado, é uma música particularmente forte, com uma sonoridade mais latina, que é nova na nossa música.

PP – Neste álbum, vocês cantam em várias línguas,como o inglês, o português, o espanhol, ou o alemão. Por que é que decidiram passar a abordar mais línguas?

EC – As mesmas palavras em línguas diferentes também têm significados diferentes. Quisemos começar a atacar por aí.

PP – De todas as línguas usadas neste álbum, qual aquela com que se sentem mais à vontade a trabalhar?

EC – O inglês é uma língua mais maleável, muito monossilábica. Gostamos de pegar em palavras e fazer estes jogos. Se for em espanhol, dá logo outro sentido à música. As pessoas ouvem a música e, quando se apercebem que é cantada em espanhol, fazem, desde logo, uma série de associações.

PS – Permite às pessoas viajarem para outra dimensão.

MM – O povo português tem muita facilidade em falar e compreender várias línguas. Por isso, tem também um ouvido muito maleável. Acho que a nossa música não é só uma aposta para o estrangeiro, mas é feita também para os ouvidos portugueses.

PP – Se calhar as pessoas vão acabar por sentir mais afinidade por cantarem em português ou em espanhol...

PS – Isto não foi premeditado para tentar chegar a Alemanha ou à Espanha. Foi mesmo uma brincadeira. Não temos complexos de cantar em português, apesar de cantarmos mais em inglês.

EC – No primeiro álbum tínhamos uma frase em português a meio [do disco], que só quem estivesse muito atento é que conseguia descobri-la.

MM – Neste álbum temos, por exemplo, uma música em italiano que foi uma proposta, uma encomenda.

EC – Uma produtora italiana convidou-nos para participar numa compilação e nós decidimos fazer a música em italiano.

MM – E eles ficaram muito admirados, não estavam mesmo à espera.

EC – Neste caso, essa música ganha imensa força por ser em italiano. Se fosse em inglês, acho que não tinha o mesmo impacto.

PP – Apesar de terem começado a tocar em 2005, ainda há muita gente que desconhece os AbztraQt Sir Q. Por que é que acham que isso acontece?

EC – O primeiro disco não teve muita promoção, nem comunicação. Acho que Portugal tem um mercado muito fechado, ao qual, muitas vezes, é difícil chegar. Quando lanças o segundo álbum, só por ser o segundo álbum, já és encarado de forma diferente. Neste segundo disco tivemos uma promotora e uma editora. Estamos a aperceber-nos que o primeiro álbum passou completamente ao lado das pessoas. Não passou nas rádios generalistas, só passou em programas de autor. Falou-se muito nos blogs e um pouco na imprensa escrita, mas isso não foi o suficiente.

PP – Também não é uma música para qualquer pessoa, não é para as massas...

EC – Exacto. É uma música de nicho. E nós andámos à procura desse nicho. Nós achamos que muitas pessoas ainda não nos ouviram, mas, se ouvirem, até vão gostar. É um trabalho lento. Mas eu acho que é preferível ser um processo lento e gradual, do que acontecer tudo de repente.

PP – É muito complicado uma banda afirmar-se, hoje em dia, no mundo da música?

EC – Há um fenómeno curioso. Nós pusemos um pequeno tema no MySpace, que é uma ferramenta essencial, e imediatamente começámos a ter um feedback muito positivo, pessoas muito entusiasmadas. Por oposição, sentimos imensa dificuldade em agendar concertos. Antes de termos o primeiro álbum, era muito difícil agendar concertos fora de Lisboa. Finalmente, conseguimos arranjar concertos através dos nossos contactos. Os espectáculos de Inglaterra também surgiram nessa altura. Isso também nos deu um certo alento. Pensámos que, se há pessoas entusiasmadas, significa que o que nós estamos a fazer há-de ter algum interesse. Basta ir tocar a um sítio e uma pessoa vir ter connosco no final a dizer que gostou, que já valeu a pena.

PP – Utilizam muito as redes sociais?

EC – Acho que não se pode passar sem eles. Não podemos ignorar essas ferramentas.

PP – Ajudam-vos muito?

EC – Ajudam, principalmnte bandas deste nível mais underground. Nós nunca conseguiríamos contactar os produtores de Inglaterra, que são produtores independentes e pequenos, sem estas ferramentas. Este tipo de música funciona também com o “boca a boca”, ver um vídeo e mostrar a alguém. Hoje em dia, as pessoas já nãoouvem música no MySpace. Vão directamente ao YouTube, para ver como é a banda ao vivo, como são os vídeos. Temos de trabalhar com estas ferramentas, o que não é nenhum sacrifício, pois também gostamos disso.

PP – Desde que começaram a tocar até aos dias dehoje, sentem que mudou muita coisa?

MM – Ainda não.

EC – Quando temos mais concertos, temos que gerir melhor o tempo, mas mais nada. Podemos perfeitamente sair à rua, que ninguémnos reconhece.

PP – Para este novo álbum, têm muitas expectativas?

PS – Nós somos muito realistas. Nós temos noção, porque também já tivemos outras bandas anteriormente e sabemos como é que as coisas funcionam. Sabemos que há todo um processo que demora tempo. Fazemos este circuito das lojas Fnac em que estão dez pessoas, mas, se calhar, para o ano estão trinta. Teremos é que fazer um processo exponencial.

PP – Se calhar as pessoas chegam a casa e comentam com a família e amigos…

PS – Nem mais. As nossas expectativas são essas. Temos noção que este álbum, por ser o segundo e por ter mais promoção, já nos vai dar uma maior visibilidade, e o terceiro certamente ainda maior.

PP - Têm alguns planos para o futuro?

EC – Sim, para já, promover o álbum. Se calhar vamos voltar a Inglaterra. Tentar também sonhar mais qualquer coisa para lá, como a distribuição. São coisas que têm de ser pensadas.

PS – Estados Unidos também.

EC – Sim, há uma hipótese, que surgiu através de uns contacto, de podermos ir para os Estados Unidos. Este é um passo ainda maior. Tem de ser algo muito bem pensado, pois não compensa ir tocar para outro país se não tencionarmos lá voltar e, muito menos, se não levarmos discos connosco.

PP – Portanto, quando forem para lá, já têm de ir munidos...

MM – Sim, temos de levar uns CDs.

EC – E depois estamos já a pensar no terceiro álbum. Andamos em tournée com o segundo álbum, mas já estamos a trabalhar no terceiro.

PP – Para quando está previsto o lançamento desse novo álbum?

PS – A nossa editora quer trabalho e ,por eles, editávamos um álbum todos os anos. No entanto, acho a maior parte das bandas lança um álbum a cada ano e meio.

EC – Se, daqui a um ano, já estiver pronto em termos de composição, e, se seguirmos o mesmo processo deste álbum, se calhar daqui a alguns meses já teremos alguma coisa.

Melanie Antunes

Fotografia: Paulo Costa