Em entrevista aos jornalistas, antes do concerto de sábado à noite, Hermeto Pascoal criticou a atual divulgação musical, que, no Brasil e “no mundo inteiro”, está submetida a “muitos interesses financeiros”, que tornam a qualidade “uma coisa muito rara”.

Por isso, defende “uma lei de controlo de qualidade” para o mundo inteiro, como a que existe para as frutas de supermercado, que se podem devolver quando não estão boas. “Vou e compro uma música ruim (…), chego a minha casa e não gosto, [mas] não posso fazer nada. Quando a música é ruim, é ruim para todo o mundo”, afirma.

“O público já está de ‘saco cheio’ de músicas feitas para ele, que acham que ele vai gostar. Está todo o mundo a querer adivinhar o que o público gosta. Na minha opinião, eu não tenho que adivinhar, eu tenho que gostar e mostrar para o público o que eu gosto”, argumenta. “Eu não vendo só banana, só laranja, só tangerina, só uva, eu vendo música universal”, classifica.

O músico Miles Davis chegou a dizer que, se reencarnasse, gostava de ser “o albino louco”, referindo-se a Hermeto Pascoal. “Quando eu o conheci ele estava com 45 anos. Eu consegui brincar com ele, falar com ele, sem falar inglês, só com a mente, (…) não precisava nem tradução”, recorda.

Já Hermeto, se reencarnasse, gostava de ser “mais um Hermeto”, com “outra perceção, outro jeito, outras ideias”. Considera que influenciou “muita gente”, não para fazerem o que ele faz, mas o que eles gostam. “No mundo tem vários Hermetos, não em termos de cópia, de imitar, mas de influências”, diz, pedindo às escolas para “acabarem com a padronização”.

No final, quis presentear os jornalistas com um verso cantado em homenagem à música, acompanhado pela mulher, também da banda que levou a Sines: “A música segura o mundo/enquanto a gente viver/é a maior fonte sem fim/de alegria e prazer/toque e cante minha gente/até ao dia amanhecer.”

@Lusa