O filme “Sortes”, considerado a melhor média-metragem nos prémios nacionais de cinema na Alemanha, trata a “perda da ruralidade e da tradição oral” no Alentejo, mas que acaba por ser uma questão universal.

Para a realizadora do filme de 38 minutos, Mónica Martins Nunes, a transversalidade do tema pode explicar a atribuição do prémio que a deixou “muito emocionada”.

“Para mim, é muito surpreendente e motivante receber um prémio tão importante na Alemanha [...], mas é um filme que está muito enraizado na cultura alentejana. Apesar de tratar questões locais, elas são surpreendentemente universais. Essa perda da ruralidade e da tradição oral tem repercussões noutros lugares que passam por processos semelhantes”, disse, em declarações à agência Lusa.

“Sortes” foi distinguido nos Deutscher Kurzfilmpreis, prémios nacionais de curta-metragem do cinema alemão, numa cerimónia que contou com a presença da ministra alemã da Cultura, Claudia Roth, que entregou o galardão a Mónica Martins Nunes.

“Concorri a um festival na Alemanha que depois selecionou o meu filme, que é o Kurzfilm Festival Hamburg. E depois os festivais alemães selecionam os filmes que são candidatos a serem nomeados a este prémio. Um júri independente escolhe os vencedores”, explicou.

O filme, uma coprodução luso-alemã, foi rodado no Alentejo, registando a paisagem humana e rural da serra de Serpa, marcada pela desertificação.

“Foi um processo bastante longo. Inicialmente, eu só queria filmar o meu avô, as histórias que cresci a ouvir dele. Mas, infelizmente, quando estava a começar este processo, ele faleceu. Foi nessa altura que comecei a querer passar mais tempo na serra de Serpa e a procurar essas histórias que ouvi dele”, recordou a realizadora, lembrando que as filmagens aconteceram em 2017 e 2018.

“No início, não sabia ao certo o que estava a fazer. Então fui filmando durante bastante tempo. […] Inicialmente eu não tinha propriamente um conceito para o filme. Fui conhecendo pessoas que iam influenciando o que filmar e como pensar esse lugar. […] Como filmei sozinha isso também me permitiu ter essa intimidade e esse espaço para que os protagonistas pudessem influenciar-me”, adiantou.

Foi durante a montagem que criou o filme onde entram poetas populares, trabalhadores no campo que se dedicam à tiragem da cortiça, entre outros.

“Estava habituada a visitar com a minha família um monte que estava a cair, e que acabou por ser uma imagem muito forte para o filme. É a casa, o monte feito de taipa, da mesma terra onde está, e que, com o passar do tempo, e o abandono, acaba por cair e ser a mesma terra da qual uma vez foi erguida”, sublinhou.

“Sortes” teve estreia mundial na edição de 2021 do Festival Visions du Réel, em Nyon, na Suíça, integrado na competição internacional. A estreia portuguesa aconteceu no mesmo ano, no Curtas de Vila do Conde, tendo também sido exibido no festival Porto/Post/Doc, entre outros.

Ainda em 2021, conquistou o prémio do público no FIKE - Festival Internacional de Curtas-Metragens de Évora, e agora o prémio de melhor média-metragem nos Deutscher Kurzfilmpreis.

“Para mim ter o apoio deste prémio e o reconhecimento das pessoas que eu filmei é muito importante para mim. Talvez dê para eu arriscar mais, e dedicar a maior parte do meu tempo ao meu trabalho”, realçou.

Mónica Martins Nunes vive em Berlim há cerca de uma década, onde fez mestrado em Artes Plásticas na Universität der Künste.

Em 2017, o seu primeiro filme, “Na Cinza Fica Calor”, foi distinguido com o Golden Dove de melhor ‘curta’, um dos principais prémios do festival de cinema documental DOK Leipzig. A realizadora e artista visual está nesta altura a trabalhar num novo projeto no Porto.

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