O filme “A Bela América”, realizado por António Ferreira e protagonizado por São José Correia e Estêvão Antunes, estreia-se nos cinemas portugueses a 5 de outubro, anunciou a distribuidora NOS na quinta-feira.

O filme, inteiramente rodado em Coimbra, conta a história de Lucas (Estêvão Antunes), um “humilde e talentoso cozinheiro”, e América (São José Correia), estrela de televisão candidata a presidente, cujas vidas se cruzam após um despejo que deixa o protagonista e a sua mãe sem casa, lê-se numa nota de imprensa enviada à agência Lusa.

“A Bela América” é uma “comédia dramática” que se cruza com uma história de amor, tendo como pano de fundo as desigualdades sociais e a ideia de meritocracia na sociedade contemporânea, acrescentou a empresa.

O filme confronta o espetador com um dilema: “até que ponto, está nas nossas mãos moldar a linha do destino que nos é traçada à nascença".

Em declarações à Lusa, o realizador António Ferreira explicou que a ideia original tem cerca de 20 anos e que era para ter sido o projeto que levaria a cabo depois de “Esquece tudo o que te disse”, a sua primeira longa, cujo argumento escreveu a meias com César dos Santos Silva, com quem volta a partilhar os créditos do guião.

“Decidimos recuperá-lo, mas com alterações brutais, e aproveitámos para amadurecer a ideia”, disse, salientando que a questão da “luta de classes persiste e, se calhar, até está mais evidente”.

Para o realizador, os filmes “são ferramentas de consciencialização”, considerando que “A Bela América” acaba por abordar “questões sérias, como a crise da habitação ou a desigualdade” ou o populismo, procurando desmontar “os mecanismos de sedução dos políticas”, a partir da personagem América.

António Ferreira entende este seu novo filme como “uma comédia triste”, abordando “temas contemporâneos com ironia e humor”.

Questionado sobre as dificuldades de um realizador fixado em Coimbra, António Ferreira admite que “não é fácil”, por trabalhar num setor em que “está tudo centralizado em Lisboa”.

“Deveríamos encontrar maneira de fazer cinema um pouco por todo o país e não é ir uma equipa de Lisboa para filmar em Viana do Castelo durante umas semanas. Felizmente, consegui ter uma equipa maioritariamente de Coimbra e filmo em Coimbra porque sou de cá. Não quero filmar em Lisboa”, vincou.

Salienta que faz questão de mostrar o sítio onde vive, lamentando que as autoridades locais não assegurem “melhores condições” para se poderem fixar mais pessoas do meio fora de Lisboa.

“É preciso apoios financeiros para garantir produções regulares. Não é uma produção minha de três em três anos que vai mudar as coisas. Tem haver estratégia e recursos para atrair pessoal técnico para fora de Lisboa”, defendeu.

Para o realizador, “se houver trabalho regular, as equipas técnicas ficam, até porque as pessoas estão mortinhas para sair de Lisboa”.

“Os concertos dos Coldplay [que atuaram em Coimbra este ano] são importantes, mas duram quadro dias e acabam. A prova de rally é uma hora e acabou. Um filme é para sempre. O Rebolim [praia fluvial] está para sempre no ‘Respirar Debaixo de Água’ [a sua primeira curta-metragem], quando era só um banco de areia”, sublinhou.