O Festival de Cinema de Cannes estende esta terça-feira a sua passadeira vermelha para celebrar o seu 75.º aniversário, com o norte-americano Forest Whitaker como a primeira estrela convidada e um filme de zombies para abrir o evento.

O maior festival de cinema do mundo está de volta com desejo de diversão e de deixar as restrições sanitárias para trás, mas sem esquecer a tragédia na Ucrânia, país que terá várias oportunidades de levantar a voz.

Tom Cruise subirá as escadas de Cannes de regresso ao papel de piloto em "Top Gun: Maverick", um filme emblemático da década de 1980, o realizador Baz Luhrman revelará a sua visão do rei do rock'n'roll com "Elvis" e David Cronenberg deliciará os fãs do cinema sangrento com "Crimes of the Future".

Os 21 filmes selecionados para disputar a Palma de Ouro são o reflexo de um equilíbrio entre cinema comercial e cinema de autor.

Um equilíbrio muito menos óbvio em termos de paridade, com apenas cinco realizadoras a competir pelo prémio, de qualquer maneira um recorde para Cannes.

"As instâncias do Festival, as suas equipas, o júri... tudo é paritário", defendeu-se na segunda-feira o delegado-geral do festival, Thierry Frémaux.

O júri, presidido pelo ator francês Vincent Landon, entregará a Palma de Ouro a 28 de maio.

Whitaker, Palma de Ouro honorária

Os membros do júri esta terça-feira: Ladj Ly, Vincent Lindon (presidente), Jasmine Trinca, Joachim Trier, Rebecca Hall, Deepika Padukone, Asghar Farhadi, Noomi Rapace e Jeff Nichols

O ator afro-americano vencedor do Óscar Forest Whitaker receberá uma Palma de Ouro honorária aos 60 anos.

Protagonista de filmes emblemáticos como "O Último Rei da Escócia" ou "Bird" (com o qual ganhou Melhor Ator no festival de 1988), Whitaker receberá a distinção após a cerimónia de abertura, marcada para as 19h00 locais (18h00 em Lisboa).

O filme "Coupez!", do francês Michel Hazanavicius, sobre zombies, mas com um tom humorístico, abrirá a festa.

Quarta-feira será a hora de descolar com "Top Gun: Maverick", sequela de um filme de grande sucesso e que teve o lançamento adiado devido à COVID-19.

Tom Cruise, que interpretou um piloto da Marinha dos EUA no primeiro filme (1986), regressa ao seu papel de personagem rebelde.

Então começará a festa do cinema internacional.

Do russo Kirill Serebrennikov à francesa Claire Denis, passando pelos veteranos irmãos belgas Dardenne, ou o espanhol Albert Serra - o único representante do cinema ibero-americano na corrida pela Palma de Ouro -, o evento dará voz aos criadores mais singulares.

O sul-coreano Park Chan-wook compete ao lado do japonês Hirokazu Kore-eda, assim como do norte-americano James Gray.

Tom Hanks interpreta o empresário de Elvis Presley, Viggo Mortensen um artista que se deixa abrir até as tripas na companhia de Léa Seydoux e Kristen Stewart e Anthony Hopkins interpreta um magnata em Nova Iorque na década de 1970.

Também estará presente o ator espanhol Javier Bardem, que participará de um encontro com o público.

Todos devem percorrer a famosa passadeira vermelha, ao lado de cineastas, produtores, estrelas da música e até figuras de destaque das redes sociais.

Aproximar-se do público jovem

Cannes anunciou novos parceiros para os seus eventos de mais glamour e conversas com realizadores e atores.

Entre os parceiros está o aplicativo chinês TikTok, que está na moda em todo o mundo. A ideia é aproximar-se de um público jovem, que prefere usar o telemóvel para filmar e ser filmado.

Cannes também abre as suas portas aos criadores ucranianos, uma forma de mostrar a sua solidariedade com o país em guerra.

O realizador lituano Mantas Kvedaravicius foi morto por tiros russos no mês passado na Ucrânia. O seu filme "Mariupolis 2", sobre a cidade martirizada, terá a sua estreia póstuma em Cannes.

O festival conta com um grande mercado cinematográfico, que celebrará um dia especialmente dedicado a este país.

O realizador ucraniano Serguei Loznitsa apresentará "The natural history of destruction", sobre os bombardeamentos aliados às cidades alemãs durante a Segunda Guerra Mundial.

Do cinema português presente este ano em Cannes, fora de competição estrear-se-á “Restos do Vento”, de Tiago Guedes.

Na competição pela Palma de Ouro está “Pacifiction – Tourment sur les îles”, do espanhol Albert Serra e com coprodução portuguesa.

Nos programas paralelos do festival, na Quinzena de Realizadores estará "Fogo-Fátuo", de João Pedro Rodrigues, e na secção Cannes Classics “O silêncio de Goya”, coprodução franco-hispano-portuguesa dirigida por José Luis López-Linares.

Na Semana da Crítica apresentar-se-ão "Ice Merchants", curta-metragem de animação de João Gonzalez, "Alma Viva", primeira longa-metragem da luso-francesa Cristèle Alves Meira, e "Tout le monde aime Jeanne", primeira obra da francesa Céline Devaux, rodada em Lisboa e com coprodução portuguesa pela O Som e a Fúria.

O filme "Mistida", de Falcão Nhaga, estará presente no programa La Cinef do Festival, dedicado a obras feitas em contexto escolar.

Do lado ibero-americano haverá, sobretudo, a participação de jovens, como a espanhola Elena López Riera ("El agua"), os colombianos Andrés Ramírez Pulido ("La jauría") e Fabián Hernández ( "Um homem") e a chilena Manuela Martelli ("1976").