Era uma vez uma jovem de tez clara e índole cândida, que vivia num luxuoso hotel. A sua madrasta Maud (Isabelle Huppert) geria-o de forma implacável, como a vida da bela rapariga, deixando-a inerte e sem desejos. Certo dia, a diabólica matriarca vê o seu próprio noivo a acariciar a delicada princesa. Ciumenta, orquestra de pronto o rapto daquela e o seu abandono no meio da floresta, para morrer.

Claire (Lou de Laâge) de seu nome, branca como neve, não só sobrevive, como encontra os sete “anões”. Qualquer semelhança com o conto dos irmãos Grimm é claramente propositada. E o "twist" desta versão é que Claire, a nossa heroína, em vez de se rebelar contra os seus raptores e de questionar os habitantes da casa onde se encontra cativa, descobre uma liberdade sexual nunca antes sentida, levando-a a intoxicar de paixão todos os que a rodeiam.

Nesta versão sensual, cómica e negra realizada pela autora francesa Anne Fontaine não faltarão o espelho, a maçã fatal ou o momento musical, nem mesmo os esquilos que rodeiam a Branca de Neve enquanto “dança”.

Desdobrado em três partes - Claire, Maud e Branca de Neve - Anne Fontaine entrelaça o humor e a sensualidade, levando Claire a envolver-se com vários homens da aldeia e a descobrir a sua personalidade em cenas por vezes patéticas e descabidas. Apesar de jogar num registo "hitchcockiano", de forma a revelar o mistério e a manter a seriedade, Fontaine deixa imperar o "campy", principalmente quando os maquinismos da madrasta vêm à tona.

Com recurso a uma cinematografia repleta de planos aéreos sobre a neblina da montanha e da floresta, a cineasta procura mostrar que estamos a entrar num reino encantado. Mas as cenas longas, a incongruência dos diálogos e um argumento descompassado vão deixando pouco à imaginação para justificar o arrojo nesta produção adulta de um conto de fadas.

"Branca como a Neve": nos cinemas a 24 de outubro.

Crítica: Daniel Antero

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