O primeiro dia de deliberações do júri no processo do outrora todo poderoso de Hollywood Harvey Weinstein, considerado emblemático para o movimento #MeToo, terminou esta terça-feira (18) sem um veredicto.

O famoso produtor cujos filmes ganharam 80 Óscares é acusado pelos procuradores de Nova Iorque de ser um predador sexual, de agressão sexual e violação.

Se for considerado culpado das cinco acusações que enfrenta, pode ser condenado a uma pena máxima de prisão perpétua.

O júri começou a deliberar antes das 11h30 locais (16h30 de Lisboa) e concluiu cinco horas depois, sem chegar a um acordo. Voltará a reunir-se às 09h30 de quarta-feira.

"A procuradoria tem a tarefa de provar que o acusado é culpado de todas as acusações para além de toda a dúvida razoável. Se não conseguir, [os jurados] devem declarar o acusado não culpado", disse o juiz James Burke antes do início das deliberações.

Weinstein, 67 anos, foi denunciado por mais de 80 mulheres desde que o escândalo eclodiu em outubro de 2017, a génese do movimento #MeToo. Entre as denunciantes estão a atriz mexicana Salma Hayek e a americana Gwyneth Paltrow.

No entanto, apenas está a ser julgado no tribunal criminal de Manhattan por dois casos: a suposta agressão sexual contra a ex-assistente de produção Mimi Haleyi, que o acusa de ter feito sexo oral contra a sua vontade em 2006, e a alegada violação da ex-atriz Jessica Mann em março de 2013. A maioria dos outros crimes prescreveu.

O produtor de "Pulp Fiction" e "A Paixão de Shakespeare" é o primeiro homem acusado de agressão sexual no âmbito do #MeToo a ser julgado criminalmente.

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O caso, no entanto, é complicado e a procuradoria enfrentou dificuldades para provar ao júri que Weinstein é culpado além de qualquer dúvida razoável.

A acusação diz que Weinstein aproveitou o seu imenso poder na indústria cinematográfica para agredir sexualmente aspirantes a atrizes e funcionárias do setor durante anos.

Mas a defesa mostrou ao júri dezenas de e-mails que comprovam que as duas acusadoras mantiveram um relacionamento afetuoso com o produtor durante anos após os alegados ataques, incluindo relações sexuais consensuais.

Na sexta-feira, a procuradora Joan Illuzzi-Orbon garantiu que as acusadoras "não têm motivos para mentir".

"Por que passar por todo esse stress de testemunhar se não estão a dizer a verdade?", questionou.

"Sacrificaram a sua dignidade, a sua intimidade, a sua tranquilidade na esperança de fazer as suas vozes serem ouvidas", acrescentou.

A advogada que lidera a defesa, Donna Rotunno, disse que as acusadoras manipularam Weinstein para avançar nas carreiras e instou o júri a ter "a coragem" de tomar uma decisão que admitiu ser "impopular": absolver o seu cliente.

A Procuradoria criou para o júri uma espécie de "universo alternativo", onde "as mulheres não são responsáveis pelas festas que frequentam, nem pelos homens com quem namoriscam [...] ou pela ajuda que pedem para obter emprego", disse Rotunno nas suas alegações finais, responsabilizando as mulheres pelo que aconteceu.

Rotunno lembrou ao júri que, para condenar o acusado, deve ter certeza da sua culpa "além de qualquer dúvida razoável" e lembrou que a procudaria não apresentou provas forenses ou chamou a polícia como testemunha.

No final, tudo dependerá se sete homens e cinco mulheres do júri acreditam ou não nas acusadoras e nas quatro mulheres que testemunharam como foram agredidas por Weinstein.

Os jurados devem chegar a um veredito por unanimidade para cada uma das acusações.

Se fracassarem, o juiz James Burke poderá ser forçado a declarar nulo o julgamento. Também é possível que exista um veredito misto: ser considerado culpado de algumas acusações e absolvido de outras.

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