A HISTÓRIA: Dois anos a assombrar as ruas como Batman, incutindo medo no coração dos criminosos, conduziram Bruce Wayne até às zonas mais sombrias da Cidade de Gotham. Com apenas alguns aliados de confiança entre a rede corrupta de funcionários e figuras proeminentes da cidade, o vigilante solitário estabeleceu-se como a personificação da vingança entre os seus cidadãos.

Quando um assassino ataca a elite de Gotham com uma série de máquinas sádicas, um rasto de pistas misteriosas e obscuras levam-no a investigar o submundo. À medida que as provas o encaminham para mais perto de casa e a grandeza do plano do vilão se torna mais clara, Batman tem de forjar novas relações, desmascarar o culpado e trazer justiça ao abuso de poder e à corrupção que há muito assolam a Cidade de Gotham.

"The Batman": nos cinemas a partir de 3 de março.


Crítica: Daniel Antero

"The Batman" é uma nova versão da alma atormentada que é Bruce Wayne, fundindo-se de uma vez por todas na "cape and cowl", inspirada por filmes como "Chinatown" (1974), de Roman Polanski, "Os Incorruptíveis Contra a Droga" (1971), de William Friedkin, e até "Zodiac" (2007) e "Se7en" (1995), de David Fincher, e utilizando elementos de bandas desenhadas como "Batman: Ano Um" (1987), de Frank Miller e David Mazzucchelli, "Batman: The Long Halloween" (1996-1997) e "Batman: Dark Victory" (1999-2000), de Jeph Loeb e Tim Sale.

Conto melancólico, esta nova iteração cinematográfica da famosa personagem da DC é um "neo-noir" com toques de horror que se direciona para o singular negrume da anacrónica cidade de Gotham. Chuva, neons vermelhos e a habitual arquitetura gótica são elementos que o realizador Matt Reeves decidiu carregar de sujidade e aridez, para nos embrenhar na miríade complexa de traumas, volatilidade e raiva sombria do vigilante.

Intoxicando-o de contradições e de um sentimento de retribuição visceral, Reeves foca-se num Batman que vive o seu segundo ano formativo, prestes a resvalar para o abismo. Robert Pattinson, ator muito conhecido do grande público pela saga "Harry Potter" e principalmente "Twilight", é agora a mandíbula debaixo do capuz.

A escolha fez correr muita tinta e a internet entrou em polvorosa. Mas a figura emo do ator inglês há muito que deixou de existir - filmes como "O Farol" (2019), "Good Time" (2017) ou "Mapas para as Estrelas" (2014) assim o comprovam - e aqui, desde o início, ele consegue imbuir a melancolia, desequilíbrio e dúvidas do Homem-Morcego com uma ferocidade e rispidez atordoantes.

Desta vez, não precisamos de ver Bruce Wayne para contrapor e verificar a dualidade. O gatilho para que isso aconteça é The Riddler (Paul Dano), um génio manipulador, mestre em enigmas diabólicos e genuinamente assustadores, que aqui serve como némesis e despoleta a excelência das competências detetivescas do "Cavaleiro das Trevas", além de funcionar como seu espelho.

A pergunta que se coloca é qual é a diferença intrínseca entre um aterrorizador de criminosos e um aterrorizador de pessoas comuns? Ambos aparecem mascarados, são rebeldes contra a injustiça, recorrem à violência e são "voyeurs"… num embate final, uma reviravolta irá distingui-los?

Há ainda uma terceira face aqui presente, um universo refletido nas tipificações monstruosas de Gotham: nós e o nosso mundo. Porque "The Batman" evolui gradualmente para uma análise assustadoramente atual dos perigos dos "media", onde The Riddler cresce como um produto do vortex de teorias de conspiração, mediatismo, e a sua influência nefasta.

Acompanhado por um elenco fabuloso, onde figuram nomes como a "femme fatale" Zoë Kravitz (Catwoman), o irreconhecível Colin Farrell (The Penguin), Jeffrey Wright (o comissário James Gordon), John Turturro (Carmine Falcone), e pela música portentosa de Michael Giacchino, Matt Reeves compôs um épico de pistas e revelações que, embora seja demasiado longo e vá perdendo a sua propulsão inicial, tem um "showdown" final tremendo, repleto de excelente ação coreografada.

Para quem esteja à espera de um "boost" de octanas "hollywoodescas", este “The Batman” não é isso. A espectacularidade existe, a ação cinética e imprevisível estão lá, mas Matt Reeves optou por deixar o super-heroísmo e os artifícios de lado, preferindo enveredar por cenas que se situam na fronteira entre o realismo sujo dos anos 1970 e a hipérbole bruta dos anos 1980. Mas quando estas acontecem, principalmente quando surge o Batmobile… agarrem-se.

E claro: este regresso em força do Batman é um filme a não perder no cinema.

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