A HISTÓRIA: No século XVI, exasperados com as incursões de grupos de bandidos, que lhes roubam as colheitas e as mulheres, um grupo de camponeses pede auxílio aos samurais. Seis guerreiros, chefiados por Kambei e pelo filho de um camponês, decidem defender os camponeses sem receber pagamento, apenas casa e comida, pois têm a convicção de cumprir um dever.

"Os Sete Samurais": reposição nos cinemas a 17 de setembro.


Crítica: Hugo Gomes

“Os Sete Samurais” é um épico de grande escala de Akira Kurosawa que rompeu várias vezes o seu orçamento, mas os frutos recolhidos desse risco encontram-se no sucesso global que conheceu e nas influências que trouxe a todo um registo de ação, quer no cinema (logo no "remake" à americana em 1960, “Os Sete Magníficos”, de John Sturges, um dos mais bem-sucedidos do seu género), quer na cultura popular. E no facto de, quase 70 anos mais tarde (1954), continuar a ser um dos mais grandiosos e míticos da história do Cinema.

Para lá de todos estes gigantescos predicados cinematográficos, encontra-se um filme delicado e sensível, diversas vezes conduzido pelas ações das suas personagens - seis espadachins marginalizados e um vagabundo aspirante (Toshirô Mifune, ator-fetiche do realizador), que se juntam para defender uma aldeia desafortunada de um grupo de bandidos que de vez em quando lá surgem para implantar o caos e a destruição.

Será também dentro deste grupo que nasce uma escalada afetiva com o povoado, que vai revelando os caráteres emocionais destes homens de força e dever que se vão tornar improváveis heróis. E é por aí que o filme joga nos detalhes, como um samurai de primeira ordem (Seiji Miyaguchi) se importa com a sua posição para lançar a derradeira e mortífera tacada.

Akira Kurosawa filma, com o cuidado pelo qual é reconhecido, as expressões dos seus heróis, os seus movimentos, os seus foros íntimos (sentimos uma aura de pacificação fabulista no campo de flores, que suscita um provável par amoroso) e os enquadra numa tática estratégia de os resumir num todo. Os sete são sete, é verdade, mas quando a batalha se adensa por entre vilões sem qualquer perfil (no realizador, as forças antagónicas são passadas para segundo plano) e os nosso heróis caem um a um, é que a perda se vai, por fim, sentir, e o coletivo se dissolve.

São estas as “forças invisíveis” que tornam “Os Sete Samurais” num espetáculo de coração cheio, honroso para com a sua luta e que no final adquire um tom algo fúnebre que nos acompanha até ao gigantesco “kanji”, a representar FIM, a dominar o ecrã. Para lá dos cenários de grande dimensão e uma figuração engenhosa e à sua maneira “tosca” (uma das grandes características do dito épico à moda de Kurosawa) e das sequências de ação arrastadas maioritariamente num plano só, esconde-se um filme humanista que maneja as suas emoções como ninguém.

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