A HISTÓRIA: Bem-vindos ao Inferno — também conhecido como Belle Reve, a prisão com a mais elevada taxa de mortalidade dos EUA. Local onde os piores supervilões são encarcerados e de onde tudo farão para sair – inclusive juntarem-se à supersecreta, super duvidosa Task Force X. Tarefa fazer ou morrer do dia? Juntar um coletivo de vigaristas, incluindo Bloodsport, Peacemaker, Capitão Boomerang, Ratcatcher 2, Savant, King Shark, Blackguard, Javelin e a psicopata favorita de todos, Harley Quinn. Depois armá-los até aos dentes e atirar com eles (literalmente) para uma ilha à lá Corto Maltese, remota e recheada de inimigos.

"O Esquadrão Suicida": nos cinemas a partir de 5 de agosto.


Crítica: Hugo Gomes

Perante este "O Esquadrão Suicida", realizado por James Gunn, é muito fácil reagir dizendo que "este é o filme que queríamos em 2016".

De facto, o primeiro “Esquadrão Suicida” tornou-se um dos títulos do cinema de super-heróis vistos de forma mais negativa tanto pelo público como pela crítica, onde o único fator que suscitou debate foi o desempenho de Jared Leto enquanto o “Palhaço do Crime” Joker. Dirigido por David Ayer (“O Fim do Turno”), que se queixou das interferências criativas do estúdio, o filme era um objeto caótico de diversos tons mesclados numa direção não definida e com uma montagem sem eira nem beira.

Aguardado com expectativa pelos fãs, a adaptação da BD resultou num “balde de água fria”, mesmo com os impressionantes 746 milhões de dólares arrecadados nas bilheteiras mundiais. O que de mais positivo se extraiu dessa experiência que acabou por prejudicar a criação do ambicionado universo cinematográfico da DC Comics para competir com o da Marvel foram as suas personagens e os atores, nomeadamente a estrela feita Margot Robbie como a delirante arlequina “Harley Quinn” ou Viola Davis na pele da impiedosa Amanda Waller, mentora de um programa protomilitar que colocava vilões “forçados” a executar serviços para o governo norte-americano.

Descartando a visão negra projetada por Zack Snyder (agora repensada como autoral com direito a revisionismos e reflexões após a sua versão de quatro horas de "Liga da Justiça"), a Warner Bros. e a DC tiveram um golpe de génio no outono de 2018 ao contratar para a sua estância um James Gunn, que acabara de ser despedido pela Disney por causa de mensagens antigas polémicas nas redes sociais (entretanto "perdoado" e de regresso à Marvel para um um terceiro “Guardiões da Galáxia”).

Com direito a fazer o que quisesse, incluindo um filme com a agressiva classificação etária R nos EUA (um aproximado a "maiores de 16"), o realizador escolheu os super-vilões da DC e até teve carta-branca para "assassinar" qualquer personagem. O resultado não irá certamente alterar o cinema de super-heróis, mas ficará como um dos mais ricos e "over-the-top" do seu género.

Com inspirações assumidas no cinema bélico, grande cartão de visita de "O Esquadrão Suicida" está na condução livre, febril e delinquente com que este cinema joga ao sabor do entretenimento contemporâneo. Não é progressividade no seu melhor e não têm espaço neste artifício de violência a linguagem meta de “Deadpool” ou o pós-modernismo de outras produções da DC, mas o resultado é orgânico, jubiloso e conciso. James Gunn prova ser um exímio barman no que requer a preparar cocktails... e bem catitas.

Mas é na comparação com o filme de 2016 que este novo “O Esquadrão Suicida” ganha... e, ao mesmo tempo, perde. Porque a sua posição é um gesto inglório e ingrato - muito do que aqui é exposto deve-se à "tentativa" frustrada de David Ayer, que não teve direito ao tratamento VIP com que se deleitou o seu homólogo. Como diria o "outro" – “são outros cinco tostões” – este filme possui um mundo dentro dele (colocamos a "coisa" desta forma), com um exagero natural e, através disso, funciona na sua hipérbole tese ao cinema de super-heróis.

Saímos satisfeitos e nunca desgrudados a uma fórmula prescrita: James Gunn faz um filme à sua imagem e ao seu som (mais uma vez, uma deliciosa coletânea musical ao nosso dispor), e como bónus, temos um tubarão humanoide CGI com a aura de Sylvester Stallone (King Shark) e a portuguesa Daniela Melchior (“Parque Mayer”) num papel relevante e a colocar na narrativa na cidade do Porto. Fora os seus desvaneios e sem surpresas, este é o filme que esperávamos do realizador de "Guardiões da Galáxia"…