A HISTÓRIA: Cinco anos após o final da Guerra Civil Americana (1861-1865), o Capitão Jefferson Kyle Kidd, um veterano de três guerras, desloca-se agora de cidade em cidade como (um) contador de histórias verídicas, partilhando as notícias de presidentes e rainhas, de disputas gloriosas, catástrofes devastadoras e aventuras cativantes do fim do mundo. Nas planícies do Texas, cruza-se com Johanna, uma criança de 10 anos acolhida seis anos antes pelo povo Kiowa e criada como um dos seus. Johanna, hostil a um mundo que nunca conheceu, está a ser devolvida aos seus tios biológicos contra a sua vontade.

Kidd concorda em entregar a criança no local onde a lei diz que ela pertence. Ao viajarem centenas de quilómetros rumo ao implacável deserto, irão enfrentar juntos tremendos desafios, oriundos tanto de forças humanas como naturais, enquanto procuram um lugar ao qual possam ambos chamar Lar.

"Notícias do Mundo": disponível na Netflix a partir de 10 de fevereiro.


Crítica: Hugo Gomes

O western está morto e enterrado. Aliás, há quem culpe Clint Eastwood de ter executado o funeral com "Imperdoável", em 1992. O que tem aparecido esporadicamente são exercícios ou desconstruções, olhares distantes da sua legitimidade enquanto género formado e convicto.

“Notícias do Mundo”, marcado por uma realização mais calma e menos galopante de Paul Greengrass (distante da imagem de marca da saga Jason Bourne ou “Voo 93”), funciona como uma releitura dos elementos do Oeste selvagem americano, iluminados por um luz atual, ou seja, a de uma nação dividida após o resultado determinante de uma guerra civil e o poder da imprensa como alvo de uma fação descontente.

Através de um "leitor de notícias" (Tom Hanks novamente pelas boas causas, uma constante na longa carreira), um errante que “saltita” de cidade para cidade para, por uma pequena soma de moedas, ler as notícias impressas nos jornais de época aos habitantes iletrados, Paul Greengrass resgata a importância da imprensa, o Quarto Poder, que teve o seu "boom" técnico e operacional por volta da Guerra Civil Americana (1861-65).

Com "Notícias do Mundo" somos transportados para os anos seguintes, em que venceu a União (os estados do "Norte") mas permanecem os resquícios do conflito. E numa nação dividida, são os jornais que unem o vasto território. Portanto, é este o pormenor pouco visto no género (que, de um certo prisma criativo, apenas serve para preencher o perfil do nosso protagonista) que relaciona o filme com o espectador e a questão do "novo western".

O restante da jornada é uma odisseia com os seus episódicos obstáculos e lições aprendidas e um desfecho que exalta a “jornada do herói” segundo a tradição do cinema de Hollywood. "Notícias do Mundo" é uma obra visualmente exuberante a reproduzir este Oeste frio e sujo, mas que nada adianta às convenções de um género que morreu e só pede que o deixem a gozar o eterno descanso.

A exceção é a presença da pequena Helena Zengel, 12 anos, que em pouco tempo tem orientado uma carreira promissora, nomeada por "System Crasher" como melhor atriz nos European Film Awards, e já conseguiu com "Notícias do Mundo" estar na corrida aos Globos de Ouro e os prémios do sindicato dos atores americanos.