A HISTÓRIA: Quando o carismático, mas sem sorte, Stanton Carlisle (Bradley Cooper) se torna querido para a vidente Zeena (Toni Collette) e o seu marido mentalista Pete (David Strathairn) numa feira itinerante, ele ganha um bilhete dourado para o sucesso, usando o conhecimento adquirido com eles para ludibriar a elite rica da sociedade de Nova Iorque dos anos 1940.

"Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas": nos cinemas a partir de 27 de janeiro.


Crítica: Daniel Antero

Depois dos filmes "Crimson Peak: A Colina Vermelha" (2015) e "A Forma da Água" (2017), e de uma pequena incursão na animação com as séries "Caçadores de Trolls: Contos de Arcadia" (2016-2018) e "3 Entre Nós: Contos de Arcadia" (2018), o realizador mexicano Guillermo del Toro retorna ao grande ecrã para dar nova vida ao romance de William Lindsay Gresham, “Nightmare Alley”, já adaptado ao cinema por Edmund Goulding em 1947.

Nesta nova versão, del Toro explora o obscuro do capitalismo americano, espelhando o mundo das feiras lamacentas de “carnival” com os salões urbanos de alta sociedade, discorrendo a ganância e o exibicionismo através da figura de Stanton Carlisle (Bradley Cooper), um oportunista que irá cair num abismo vicioso.

Dividido em dois cenários espácio-temporais, "Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas" mantém-se uno pela trapaça de várias ordens e feitios: psicoterapia, esoterismo, banha-da-cobra, religião, falácias de vendedores ambulantes e extorsão bruta vivem debaixo da superfície imagética que Guillermo del Toro tão bem sabe iluminar.

Falamos de cenários sumptuosos de 'art deco' e circenses, de telas pintadas com bestas e luzes neons que hipnotizam, de cartomantes apaixonantes (Toni Collette) e gélidas 'femme-fatales' (Cate Blanchett), de engenhos intrincados e de corredores intermináveis, de bestas humanóides e de humanos aberrantes. Este é o gabinete de curiosidades de Guillermo del Toro, a sua zona de conforto, que com o apoio do design de produção de Tamara Deverell e a cinematografia de Dan Laustsen atinge momentos de excelência.

No entanto, durante o seu interesse pelas imagens e pela metáfora, Del Toro esqueceu a construção das suas restantes personagens, pois vemos Willem Dafoe (que, quem sabe?, não seria um melhor Stan que Cooper), Ron Perlman, Rooney Mara ou David Strathaim a tornarem-se meros peões na narrativa de Cooper/Stan.

Com físico de pugilista e um rosto demasiado polido para este papel, Cooper encarna um homem dissimulado. A auto-ilusão move-o, a perversão persegue-o e a vaidade ocupa a sua mente enquanto ascende e cai em busca de riqueza. Mas também os demónios, segredos e traumas, que nos enganam e o enganam a ele próprio, enquanto observa os “geeks” dos dois mundos resvalarem na podridão, manipulando quem o rodeia e achando-se mais forte do que é…

Ao contrário dos seus filmes anteriores, del Toro enveredou pelo lado sórdido da noite e imprimiu a sua estética particular, fazendo de "Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas" o esplendoroso pesadelo de um homem. E embora tenha deixado a esperança, o sobrenatural e o encanto de fora, ainda assim, este é um filme cheio de monstros que vale a pena descobrir.