A HISTÓRIA: Uma família coreana-americana muda-se para uma pequena quinta no Arkansas em busca do seu próprio sonho americano. A casa da família sofre uma enorme mudança com a chegada da avó, matreira e desbocada, mas extremamente carinhosa.

"Minari": nos cinemas a 13 de maio. Vencedor do Óscar de Melhor Atriz Secundária.


Crítica: Hugo Gomes

A palavra “Minari” remete para uma comestível planta ribeirinha, que durante gerações serviu de cardápio à realeza coreana e hoje, para além de iguaria, funciona como um tradicional desintoxicante. Enquanto isso, o filme – “Minari” –, na sua simplicidade, funciona como uma alternativa aos "biopics" automatizados e dramas escancarados e pretensiosos que tantas vezes preenchem as ementas de Óscares.

Mas simplicidade não quer dizer simplório, e por vezes o económico (quer narrativo, quer interpretativo) é um trabalho emocionalmente árduo e complexo. Dirigido por Lee Isaac Chung, filho de imigrantes sul-coreanos nos EUA, “Minari” exorciza temas autobiográficos ou experiências identificáveis para nos trazer o drama de uma família deslocada do seu meio em busca do (célebre) sonho americano. E se esta é uma crença pregada por muito cinema americano, o filme tende em desintoxicar das toxinas deixadas por essa mesma ilusão, tal como a planta de que se apropria o título.

Por si, esta é uma obra que nunca verga pela dicotomia do copo "meio cheio" e "meio vazio". Tanto o seu otimismo e negativismo em simultâneo fazem parte de um esquema "à la ying yang", um equilíbrio que une uma teia de afetos ou conflitos interiores, de tramas de imigrantes que poderiam ser as nossas.

“Minari” aborda as adversidades sem as explorar. Indica as diferenças sem chocar. E fá-lo com uma sensibilidade empírica. O resto é uma produção que se quer “bonita”, virtuosa e de uma quotidianidade incansável. Desde a música de Emile Mosseri ("The Last Black Man in San Francisco") até à fotografia radiante de Lachlan Milne (da série "Stranger Things"), tudo está unido para erguer um projeto com todas as suas vertentes proustianas de invocar memórias passadas.

Alguém nos disse que o seu trabalho técnico nos levava automaticamente à infância e talvez seja esse propósito que levou Lee Isaac Chung a abraçar "Minari" com todas as suas forças e carinhos – transformar o cinema na sua cápsula temporal.