Antes de se entrar na saga de homens de fato preto contra invasões alienígenas, devemos ir a outro franchise da Sony para relembrar que houve um momento de viragem na carreira de Chris Hemsworth.

Apesar do fracasso nas bilheteiras (não querendo avançar quanto aos “fracassos” cinematográficos), "As Caça-Fantasmas" (sim, a versão de 2016!) foi essa destemida curva, uma que abriu ao ator celebrizado com Thor para o registo da comédia. Um risco que acabaria por conscientizar um novo rumo no seu trabalho.

Tendo anteriormente participado numa nova versão de "Férias",não é que o género lhe fosse desconhecido. Mas foi com o filme de Paul Feig que ele descobriu a auto-paródia, uma ferramenta que lhe seria útil para a redefinição do próprio Thor "Ragnarok", onde o realizador neozelandês Taika Waititi lhe deu espaço, não somente pela improvisação, mas pelo processo de construção da "persona" através da perspectiva do ator. O resultado talvez tenha sido um super-herói “apalhaçado”, mas era essa a imagem interiorizada por Hemsworth, um auto-júbilo que seria reciclado para os posteriores trabalhos.

Depois desta breve viagem, esqueçamos então as caçadoras das espectros e façamos as apresentações dos novos patrulhadores do espaço terrestre neste quarto filme e possivelmente sequela / reboot / spin-off (ainda se está por decidir). Aqui, Chris Hemsworth volta a prolongar esta tal faceta cómica que lhe fica tão bem, assim como a química testada e comprovada com Tessa Thompson (no terceiro "Thor" e no último "Vingadores"), uma bagagem que se instala nesta variação oportunista da fórmula de reciclagem que tem fomentando Hollywood nos últimos anos (sublinha-se anos aqui).

Quando mais se discute as ideias trazidas pelos recentes movimentos #MeToo e Time’s Up, a começar pela dessexualização das personagens femininas e a recorrência a cânticos de um feminismo sob um ponto de vista da capitalização, mais se percebe que um dos grandes "cancros" da indústria cinematográfica acaba por ser o seu modelo estandardizado.

Toda a logística de milhões de dólares levam este "novo" "MIB" a cometer os “pecados” habituais: os lugares-comuns vencidos, as personagens-tipos e primárias para desenvolver "merchandising" (vejam-se as criaturas pequenas e “fofas” com um certo tom atrevido) e até mesmo as ditas "revelações", que nos fazem duvidar do esforço dos argumentistas. São os mesmos truques fundidos para dar lugar ao espetáculo do costume … e é isto a que o categorizado "blockbuster" parece estar atualmente reduzido. Sem falar do frenesim tecnológico e visual.

“Homens de Negro: Internacional” não acrescenta nem afunda a ideia de produções em sequência, e não será o último do seu género. Nem sequer é uma afronta da máquina industrial oleada dos norte-americanos. Mas é de notar o oportunismo com que se "encosta" ao humor trazido por Hemsworth e dos seus adereços, o que nos leva a crer que foi por isto que esta revitalização da saga encontrou a razão de existência.

Para uma saga que nasceu de uma banda-desenhada (da autoria de Lowell Cunningham) e de um filme de sucesso de 1997 pela mão do agora “desaparecido” Barry Sonnenfeld (muito graças à sua dupla de protagonistas, Will Smith e Tommy Lee Jones), “MIB: Homens de Negro” é condenado a uma fórmula estampada e somente isso, a de um "macguffin" no Planeta Terra que poderá ditar o destino de todo o Universo e um extraterrestre recém-chegado para o roubar. É uma ideia que já fora repetida nos outros filmes, por isso questionamos se vale mesmo a pena expandir um universo sem novas constelações. E como tudo isto é um problema de Hollywood, não vale a pena pressionarmos este “filme” pelos seus maus pais.

"MIB: Homens de Negro - Força Internacional": nos cinemas a 13 de junho.

Crítica: Hugo Gomes

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