Para Portugal, o fenómeno pode ter passado ao lado, mas para uma criança norte-americana em plena década de 80, o livro “Scary Stories to Tell in the Dark” foi um dos marcos, e possivelmente a iniciação ao universo de terror.

E que início! Escrito por Alvin Schwartz, a trilogia de livros apresentavam uma antologia de histórias de terror, que de certa forma se estabeleceu como paralelo ao dito "boom" de tais elementos no género no cinema (inclusive a expansão do videoclube e do "direct-to-video").

Como esperado, os livros foram vítima de um forte criticismos por parte de pais que consideravam tais histórias, que envolviam assassinatos, canibalismos e outros “ingredientes” do macabro, inapropriados para a “recomendada” faixa etária. Naqueles tempos, a desaprovação generalizada ainda foi fortalecida com as sinistras ilustrações de Stephen Gammell que acompanhavam os textos, que para quem cresceu com os livros garante ser combustível para pesadelos.

Numa Hollywood como a que hoje, tudo o que mexe e tem alguma popularidade é motivo de adaptação. A chegada ao cinema desta curta saga literária já se encontrava planeada desde a compra de direitos, por parte da CBS Films, em 2013, mas o processo foi longo e cheio percalços que legalmente podemos apelidar de “divergências artísticas” até que, sob a benção de Guillermo Del Toro, surge a conversão cinematográfica de uma das primeiras "faculdades de terror" para muitos adeptos do género.

O problema é que "Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro" surge transformado numa quimera de tudo o que é bafiento no panorama atual de produção.

Mais trágico do que um filme incapaz de colar um legado em matéria fílmica é vermos o promissor norueguês André Øvredal, realizador sensação de “Caçadores de Trolls” que não se saiu mal na produção americana "A Autópsia de Jane Doe", a ser engolido pela ambição dos seus produtores em criar um produto certinho para as tendências em voga: se existe um tom repescado dos anos 80, uma espécie de terror reduzido à perspectiva infanto-juvenil (o leitor poderá identificar tal em “It”, “Stranger Things” e até no recente “O Boneco Diabólico”), também é evidente uma narrativa esterilizada que revê o atmosférico como um mero punhado de "saltos de susto".

Há uma “tentativa” de estabelecer uma aura de história de meia-noite, dissipada pela imperatividade do caderno de encargos (como abrir portas a um "franchise" ou nunca realmente transgredir para respeitar as limitações etárias do seu público-alvo) e do anonimato do seu realizador e ao mesmo tempo produtor (A “Pale Woman” é o único vínculo estético ao imaginário de Øvredal).

Para piorar a experiência, um  elenco sofrível de jovens oferece personagens sem credibilidade e predomina um CGI também ele … sofrido.

"Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro" é um exercício dececionante no género terror que apenas acerta e conserta no "zeitgest" temporal aolocalizar a história nos anos 60. A delícia que é ouvir algo como “A Noite dos Mortos-Vivos! O Melhor Filme do Ano”, depois de uma “Season of the Witch”, de Donovan. E um início prometedor na companhia de um verdadeiro "monstro" de Halloween: a eleição de Richard Nixon para a presidência dos EUA. O resto é … "peanuts"!

"Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro": nos cinemas a 8 de agosto.

Crítica: Hugo Gomes

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