Hans Christian Andersen mantêm-se como uma importante influência no legado animado Disney ou não tivesse uma das suas histórias mais queridas salvo o estúdio dos seus tempos negros com “A Pequena Sereia” (1989) e, mais tarde, fomentado um dos grandes êxitos desempre na animação com “Frozen: O Reino de Gelo” (2013).

Baseado no conto da “Rainha do Gelo”, o primeiro “Frozen” jogou-se de cabeça numa tentativa de reviravoltear o modelo da historieta de fadas "disnesca". E essa mudança de jogo tornou-o num símbolo de emancipação feminina e pontapeou-se como o primeiro de uma nova era.

Foi aqui que se notou claramente uma Disney mais preocupada com os calores de urgência social instigados pelas redes sociais e a necessidade de responder às minorias, fossem elas quais fossem, que trespassou para os diversos ramos do estúdio, inclusive a tão "infame" conversão "live-action" inspirada nas animações.

Contudo, esta dita “nova era” ficou-se pelo nome: a "Disney Animation" recorre novamente às “sequelites”, enquanto uma das suas assoalhadas, a Pixar, anuncia o abandono das continuações após "Toy Story 4" e aposta no conteúdo original. Mas sem Pixar, caça-se com Disney e o que obtivemos com este "Frozen II: O Reino do Gelo" é tudo menos sofisticação.

Para sermos sinceros, destaca-se uma espécie de preguiça nos mais diferentes campos, desde o desenvolvimento das personagens até à formulação das suas "gags", passando pela falta de conflito e de foco emocional. Conclusão: sentimos mesmo estar perante uma sequela "direta para vídeo", daquelas que eram feitas há uns valentes anos, não fosse o grafismo, que mantém o habitual profissionalismo.

Depois é a interminável busca pelo novo “Let it Go”, o "single" que rompeu fronteiras da simples cantoria de desenho animado, tornando-se num hino para a afirmação pessoal: “Frozen II: O Reino de Gelo” é uma "barulheira" do início até ao fim, sem uma música que fique realmente no ouvido. Nem sequer consegue estabelecer uma autoparódia, como é o caso do momento musical de Kristoff (com a voz de Jonathan Groff), concebido como uma suposta sátira aos vídeos musicais romântico-populachos dos anos 90, que porventura bate de frente num espectador já vacinado contra estes escapismos melódicos.

É assim que se fazem sucessos e este "Reino do Gelo" está pronto para aquecer as bilheteiras: em equipa vencedora raramente se mexe, mesmo que o resultado desejado seja o enésimo produto estampado com a silhueta do Mickey.

"Frozen II - O Reino do Gelo": nos cinemas a 21 de novembro.

Crítica: Hugo Gomes

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