Katell Quillévéré adapta o livro de Maylis de Kerangal, "Réparer les vivants", num drama pulsante de uma serenidade angustiante que nos faz acompanhar a viagem de um coração ao seu novo corpo.

Em "Cuidar dos Vivos", Simon é um jovem surfista, sensível e apaixonado, que após deixar o quarto da sua namorada, percorre as artérias da cidade ao encontro de dois amigos, para uma viagem ao oceano. Silenciosamente preparam-se e enfrentam as ondas no topo das suas pranchas, vivendo o momento, respirando as sensações, envolvidos na força do mar. É com grande delicadeza que vivemos os movimentos graciosos, com uma beleza ominosa vista de baixo, envolvidos pela água.

Tudo isto é abruptamente interrompido pela tragédia e Simon fica em coma, em morte cerebral. Os seus pais, que vivem separados, são então confrontados com a notícia e aconselhados na possibilidade de um transplante de órgãos.

Entretanto em Paris, Claire, na iminência de desistir da vida, abraça os seus filhos. Tem uma doença degenerativa no coração e a sua única salvação é a lista de espera de transplantes. Com o tempo a escassear, procura o reencontro com uma antiga amante...

Entre estes dois corpos que se irão unir por um coração, Katell Quillévéré faz-nos acompanhar a compaixão e a agonia das conversas dos médicos com os pais, a alegria e a esperança da médica com Claire, e a vida dos enfermeiros responsáveis pelos cuidados e pelo transplante. Tudo com respeito e paixão, onde nada é periférico, explorando a metafísica entre vida e morte e o simbolismo do órgão coração, como representação do amor... e de com grande humanismo, relembrando-nos também do milagre que é uma operação desta minúcia.

Com banda sonora de Alexandre Desplat, "Cuidar dos Vivos" é metódico, clínico e cerimonial, com um ritmo cadenciado que nos envolve como um mantra, deixando-nos enleados na nossa própria pulsação.

Autor: Daniel Antero

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