Imagine que todas as agonias e tropeções do dia seguinte são literais na monstruosidade. E com o desequilíbrio matinal vem um kaiju de 110 metros a acompanhar. No sucesso 'indie' "Colossal", o novo filme do realizador espanhol Nacho Vidalongo, Gloria (Anne Hathaway) sofre desse mal.

Gloria tem 30 e poucos anos e vive em excesso alcoólico na cidade de Nova Iorque, acreditando que tudo gira à sua volta e que as consequências do seu estilo de vida desaparecerão com umas pequenas mentirinhas e um piscar de olhos mais sedutor... mas para o seu namorado Tim (Dan Stevens), o copo já transbordou e as malas estão prontas do lado de fora do apartamento que partilham.

Sem casa, sem trabalho e pelos vistos, sem amigos, Gloria retorna à sua terra natal para abrandar e redefinir os seus objetivos. Lá, encontra Oscar (Jason Sudeikis), um amigo de longa data, com quem rapidamente se relaciona e recebe apoio na casa, no trabalho... e na continuidade das noites prolongadas que terminam sempre da mesma forma. A atravessar o parque infantil da vila e a adormecer de qualquer forma, de qualquer jeito, embriagada.

Até que um dia, o acordar é mais doloroso do que o normal: apercebe-se que os seus tropeções estão a ser mimetizados por uma criatura gigante que está a aterrorizar a Coreia do Sul. Rapidamente lida com a situação e chega a entreter-se com o seu novo poder. Até ao momento em que nova figura entra em plano: um robô gigante, tipo Voltron, oriundo da bebedeira de Oscar, que afinal revela outros sentimentos e atitudes mais tóxicas para com Gloria.

De forma cómica e agressiva, Gloria e Oscar lidam com a toxicidade em si inerente e com os que os rodeiam, cheios de comiseração e falta controlo, cheios de consciência arrogante e irresponsabilidade nos seus actos... vivendo o ressentimento e a frustração, jogando com a proporção entre os seus pequenos falhanços na vida e a vontade gigantesca de querer partir tudo...

Curioso e inusitado, "Colossal" viaja entre o 'indie mumblecore' e um drama negro de relações possessivas... com o absurdo épico de ter um jaiku às costas, que nos distrai para as reviravoltas do argumento, pois chegamo-nos a esquecer... de quem é realmente o monstro.

Autor: Daniel Antero

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