A HISTÓRIA: Os Bad Boys Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Burnett (Martin Lawrence) estão de volta para uma última aventura juntos. Marcus agora é um inspetor da polícia, enquanto Mike está numa crise de meia idade. Juntos novamente vão procurar derrubar um cartel de drogas.


Crítica: Hugo Gomes

A certa altura de "Bad Boys para Sempre", depois de todos os encontrões e reviravoltas, Martin Lawrence expressa como só ele sabe e estamos tão habituados “que telenovela mais marada!”. E Paola Nuñez, que aqui se apresenta num papel relevante em constante malabarismo de interesse amoroso com arquétipo de mulher forte (segundo a definição da indústria), realmente veio desse mundo de “soap operas” mexicanas.

O que se pretendemos dizer é que ele tem razão: tudo aqui é material de uma telenovela “over the top”, um caça-emoções através de truques baratos, escudado numa etiqueta “cheesy” dignamente e assumidamente anos 1990.

E não é por menos. “Os Bad Boys” foram criados em 1995 numa parceria do produtor Jerry Bruckheimer com o então contido Michael Bay, subjugada a uma formulaica premissa "buddie cops" com Will Smith, nos seus anos mais “quentes”, e Martin Lawrence, a um passo de se tornar numa recorrente anedota de Hollywood.

O resultado foi um sucesso, não só pela dupla polarizada que funcionou com o público, como também do ritmo oleado e das sequências de ação, que oscilavam entre a ferocidade e o ridículo.

Em 2003 surgiu a sequela, com promessas de mais e “melhor” em todos os quadrantes. Acertaram em alguns pontos: mais longo, mais disparatado (era Michael Bay a entrar aqui na sua delirante fase “autoral”) e, acima disso, mais polarizado em relação às personalidades (Will Smith mais durão com a lente centrada nas suas “complexidades” e Martin Lawrence mais “apalhaçado”). Mas apesar deste mais, o resultado ficou-se pelo mais do mesmo.

Ao todo, a dialogia arrecadou mais de 400 milhões de dólares a nível mundial e, como se diz em Hollywood, o que rende tem de render mais... mesmo que se tenha esperado 17 anos.

“Bad Boys para Sempre” instala-se entre nós por uma via, a da nostalgia a saldos, vendida a peso de ouro, e faz isso embatendo estas personagens com o peso do tempo. Martin Lawrence (44 anos) dá uma de Danny Glover em "Arma Mortífera" e constantemente relembra-nos o desejo de reforma, enquanto Will Smith (50 anos), em melhor forma física, é confrontado com a iminente “velhice” e a “necessidade” de se retirar para um conforto familiar ou monogâmico (conforme a opção). São dois "velhotes" que desejam relembrar os tempos áureos e para isso rendem-se, de mãos para cima e com as armas despachadas, à mera fórmula.

Embora o filme seja exatamente aquilo que se pretendia, com a intenção de ir bocado mais nas virtudes dramáticas destas personagens (e aí entramos na referida comparação da telenovela), há um pormenor interessante que poderá colocar este terceiro tomo na preferência dos fãs da saga: a inexistência de Michael Bay. Quer dizer … exatamente por detrás das câmaras (nem sequer escalado na produção).

Apesar dos tiques e das intermitentes vénias estéticas ao “criador” estarem lá para não anonimizar esta franquia, o afastamento torna o filme mais terra-a-terra e mais preciso na sua montagem (depois de termos experienciado um Bay sem rédeas em “6 Underground”, era de temer o pior).

No geral, é cinema-pipoca visto e revisto como muitos, datado (cartéis mexicano, lá vamos nós outra vez), pingarelho e sem novas ferramentas para adicionar ao género. Nesse aspeto, o fracassado “Projeto Gemini” [ler crítica], de Ang Lee (também protagonizado por Will Smith) foi mais progressista e virtuoso. Enfim, se o que o público quer é telenovelas, eis uma que é quase mexicana.

"Bad Boys para Sempre": nos cinemas a 16 de janeiro.

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