É fácil de apontar o dedo a Luc Besson e colocar o seu cinema como uma fantasia masculina, mas em tempos de #Metoo e de outros movimentos que nos levaram a um cuidado especial da mulher na indústria cinematográfica, não devemos esquecer que foram, e muito, os seus filmes que preencheram um vazio de mercado. Enquanto vivemos tempos que gritam desesperadamente por protagonistas femininas, vale a pena recordar que Besson nos entregou algumas das mulheres de ação mais influentes dos anos 90: Nikita, Mathilda e, mais recentemente, Lucy.

Nesse termo, “Anna - Assassina Profissional” é um subderivado precisamente do seu êxito antigo - “Nikita: A Professional” -, a invocação desse território e sobretudo desses elementos hoje perdidos perante outras prioridades.

Este novo filme de Besson tem aquilo que chamamos de atitude, um prazer em instalar esta nova "heroína" numa premissa de enganos e desenganos em constante oscilação temporal.

A certa altura, alguém parece comparar o mundo da espionagem da Guerra Fria com matrioscas [bonecas russas] devido às camadas com que a intriga parece envolver. Porém, maroscas é mais a palavra correta para este baralho narrativo, auferindo uma postura ilusória de intelecto (aliás, apenas um disfarce).

Luc Besson tende em repetir as suas marcas autorais, inserindo “Anna” num universo próprio e de puro resumo à sua relevância no passado. Fustigado com o colossal flop de “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” (colocamos fichas na mesa de que será um redescoberta no futuro), talvez seja uma jogada segura e mais modesta em termos de propostas. E não se perde nada em rever a silenciosa guerra clássica entre “espiões” e “assassinos profissionais”, e todo o ambiente pastiche que o envolve, com uma energia de requinte.

Com sequências de ação elaboradas e uma protagonista com presença suficiente para o desafio (a modelo e bailarina Sasha Luss), “Anna - Assassina Profissional” é um bate-e-foge genérico, mas determinado em cumprir a sua missão.

"Anna - Assassina Profissional": nos cinemas a 18 de julho.

Crítica: Hugo Gomes

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