A HISTÓRIA: Uma jovem rapariga, apaixonada por design de moda, misteriosamente consegue entrar na década de 1960, onde encontra o seu ídolo, uma deslumbrante aspirante a cantora. Mas Londres dos anos 60 não é o que parece, e o tempo parece desmoronar-se à sua frente com consequências sombrias.

"A Noite Passada em Soho": nos cinemas a partir de 28 de outubro.


Crítica: Hugo Gomes

Para Eloise (Thomasin McKenzie), os anos 1960 foram uma época de um perfeito deslumbramento. A jovem sonha com essa década, a nível musical e estético, mas também com quotidiano, frequentando um imaginário trazido pelos adereços sobreviventes.

Esse “desejo” fará com que, em parte, Eloise encontra o seu pesadelo. Materializada em Anya Taylor-Joy, a reluzente Sandie, jovem ambiciosa e ingénua que anseia um lugar cativo no mundo do espetáculo de Soho e se vê envolvida numa espiral descendente por lidar com uma realidade para lá da “máscara”. Ou, como é literalmente representado numa sequência afunilada e sufocante, nos bastidores da “fantasia”.

Curiosamente, o realizador Edgar Wright trabalha a nostalgia em "A Noite Passada em Soho" não como uma vertente estática, mas sujeita a desconstruções e revisionismos. Será que temos medo desse olhar mais crítico? Ou temos que preservar a fantasia dos últimos dias?

São questões que esta variação e aspiração dos filmes "Suspiria" e "Repulsa" poderiam suscitar, mas Edgar Wright é, infelizmente, todo ele entranhado por saudosismos e por um cinema de citação e recitação sem grande pose crítica (o que já vem das paródias passivas de “Zombies Party - Uma Noite... de Morte” e “Hot Fuzz: Esquadrão de Província”, até à 'playlist' integrada de “Baby Driver”).

Para além dessas piscadelas de cinéfilo colecionista, este que era um dos filmes de terror mais esperados do ano tende a enveredar por algumas tendências atuais, confundindo-as com modernidade, mas que não correspondem à sua verdadeira natureza. A saber: a de uma variação de género hipnotizado pelo legado e, com isso, formalmente, dependente dele.

Neste coração “lufa-lufa” artificial habita Anya Taylor-Joy, já depois de consagrada por "Gambito de Dama", um corpo celeste que se movimenta numa órbita própria, desconectada de todo o filme. Ela e a sua fantasmagórica personagem, ora avatar, ora premonição, indiciam um filme que “A Noite Passada em Soho” nunca consegue ser, optando por ceder , como se vê no clímax, ao artificialismo tecnológico.

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