A HISTÓRIA: Com o início da Segunda Guerra Mundial num futuro próximo, uma viúva abastada (Carey Mulligan) contrata um arqueólogo amador (Ralph Fiennes) para escavar os montículos funerários da sua propriedade. Quando fazem uma descoberta histórica, os ecos do passado britânico contrastam com o futuro incerto da nação.

"A Grande Escavação": disponível na Netflix a partir de 29 de janeiro.


Crítica: Hugo Gomes

Com "A Grande Escavação", o realizador australiano Simon Stone (“A Filha”, “The Turning”) “escava” uma produção com requinte "à la BBC" com a intenção de conquistar a temporada de prémios. E é pena que o academismo que é aqui formalizado (e atualizado) seja usado apenas para homogeneizar histórias de teor biográfico e de reconstituição de época como parece que anda a ser exigido por escolas e indústrias, contribuindo para que os "biopics" se tornem uma arte narrativa, e formal, cada vez mais caducada.

Aqui, a "vítima" são as escavações de Sutton Hoo, em 1938, marco na arqueologia anglo-saxónica que redefiniu o quotidiano daqueles povos, anteriormente considerado “bárbaros saqueadores”, que povoaram Inglaterra há mais de mil anos. Um acontecimento relevante para o estudo da nossa História que se torna um "macguffin", um pretexto para lançar uma espécie de teia de enredos em que nada se destaca pela espessura.

Ralph Fiennes faz os possíveis para interpretar mais um “esquecido” no percurso histórico, o escavador Basil Brown, realçando a amizade e compaixão com uma moribunda Edith Pretty, papel de uma madura mas não eficaz Carey Mulligan, tendo com apêndice um romance frouxo da, até certa altura, “sonsa” Lily James com um aspirante a piloto, Johnny Flynn (“Emma”).

Tudo aqui são rodeios que nada acrescentam e, pior, nunca dão total dimensão a este percurso unidimensional de uma narrativa desinteressada no que quer retratar (o achado arqueológico, a amizade entre Brown e Pretty, o romance da personagem de Lilly James ou até a Guerra) e esteticamente demasiado conservador: o único devaneio parece ser encontrado com “maliquices”, paródia do lendário cineasta Terrence Malick e a sua ligação com a ruralidade.

Estas distrações afastam-nos do que devia ser o verdadeiro propósito da história (as escavações de Sutton Hoo) ou de toda a sua reconstituição, sobrando apenas uma produção desbaratada, convencional e tremendamente cansada. Uma peça arqueológica produzida pelo acaso...

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