Após duas semanas de silêncio, surgiu uma reação de dentro de Hollywood ao artigo explosivo do The Hollywood Reporter (THR) com acusações sobre a forma violenta como o famoso produtor de cinema e da Broadway Scott Rudin trata os seus assistentes.

Sem mencionar o seu nome, o poderoso Sindicato do Produtores Americanos (PGA na sigla original) anunciou em comunicado que vai incluir numa iniciativa da organização uma formação anti-bullying "com o objetivo de eliminar a violência e a agressão no local de trabalho".

O PGA também está a formar uma "task force" para "examinar estes temas em relação aos nossos membros e no setor de entretenimento em geral. Temos o compromisso de trabalhar com os nossos colegas noutras organizações para erradicar esse comportamento".

“Estamos profundamente perturbados e desanimados com as contínuas alegações de assédio e abuso no local de trabalho na nossa indústria, e apoiamos aqueles que falam contra tal violência e intimidação em todas as formas. Devemos trabalhar juntos para tornar o nosso setor um lugar mais justo e seguro para todos os envolvidos, independentemente do seu nível ou função”, acrescentou o PGA.

Scott Rudin, cujos filmes tiveram 151 nomeações e 23 Óscares, e é uma das poucas personalidades a ganhar o Óscar, Emmy, Tony e Grammy, foi acusado de abusos laborais violentos por antigos funcionários num artigo de 7 de abril.

Desde ter partido um computador portátil na mão de um assistente que não lhe conseguiu reservar um lugar num voo esgotado a atirar uma batata assada à cabeça de outro por não ter sido avisado com antecedência de uma reunião, exigindo a seguir que lhe trouxesse outra, "'Toda a gente sabe que ele é um absoluto monstro'" juntava vários relatos de antigos funcionários que criavam um retrato volátil e vingativo do produtor de filmes como "Este País Não É Para Velhos" ou "A Rede Social", e espetáculos da Broadway como "The Book of Mormon" e "Fences".

Atirar agrafadores, tigelas de cristal ou copos seriam outros alegados comportamentos habituais no primeiro artigo de uma grande publicação sobre o tema, apesar do poderoso produtor ter décadas de reputação como um patrão abusador.

Num perfil do Wall Street Journal de 2005 significativamente intitulado "Boss-zilla!" [um cruzamento entre patrão e Godzilla], o próprio Rudin calculava em 119 os assistentes que tinham passado por si nos cinco anos anteriores e um artigo do mesmo THR de 2010 caracterizava-o como "o homem mais temido da cidade", descrevendo vários atos de crueldade e intimidação antes de apelidá-lo no parágrafo a seguir como "incrivelmente charmoso".

Juntamente com Joel Silver, outro produtor, Scott Rudin também terá sido uma das inspirações de Ben Stiller e Justin Theroux para criar a personagem do volátil Les Grossman (Tom Cruise) do filme "Tempestade Tropical" (2008). O mesmo aconteceu com o filme de 1994 "Swimming with Sharks" ("A Comédia dos Infiéis"), onde era "representado" por... Kevin Spacey.

Em 2014, também se tornou viral a sua descrição de Angelina Jolie como uma "fedelha mimada com um talento mínimo" num dos mails roubados dos servidores da Sony Pictures.

Após a publicação do artigo, Hollywood e a Broadway reagiram principalmente com silêncio.

Uma das poucas reações veio da produtora Megan Ellison, fundadora da Annapurna Pictures e produtora de filmes como "00:30 A Hora Negra" (2012), "Her" (2013), "Golpada Americana" (2013) e "Linha Fantasma" (2017).

"Este artigo apenas roça a superfície de todo o comportamento abusivo, racista e sexista de Scoot Rudin. Tal como com o Harvey [Weinstein], muitos têm medo de falar. Apoio e saúdo aqueles que o fizeram. Há uma boa razão para ter medo porque ele é vingativo e não tem escrúpulos em mentir.", escreveu nas redes sociais sobre o produtor com quem trabalhou em "Indomável" (2010).

Mas a pressão aumentou após a estrela da produção "Moulin Rouge!" Karen Olivo anunciar que não regressaria após a reabertura do espetáculo em protesto (Rudin não é um dos produtores do espetáculo) e o irmão gémeo de Kevin Blake Graham-Caso, assistente do produtor em 2008-2009 (com despedimentos pelo meio), publicar um vídeo em que o acusava de ter infligido um intenso abuso emocional que o levara a sofrer de ansiedade e depressão. Mais tarde, o irmão teve outra relação abusiva que levou ao suicídio em outubro de 2020.

Rudin afastou-se dos seus projetos de cinema, streaming e produções da Broadway, escrevendo em comunicado que lamentava "profundamente a dor que o meu comportamento causou e dou este passo com o compromisso de crescer e mudar”.

Numa altura em que as dinâmicas de poder estão a ser colocadas em causa em Hollywood na era pós-#MeToo, há quem acredite que esta anunciada retirada estratégica do produtor não será suficiente e a sua carreira chegou ao fim.

Tudo o que se passa à frente e atrás das câmaras!

Receba o melhor do SAPO Mag, semanalmente, no seu email.

Os temas quentes do cinema, da TV e da música!

Ative as notificações do SAPO Mag.

O que está a dar na TV, no cinema e na música!

Siga o SAPO nas redes sociais. Use a #SAPOmag nas suas publicações.